Cooperação Técnica Brasil – Os desafios na estação Central do Brasil e seu entorno no Rio de Janeiro
Este
workshop foi realizado no âmbito da cooperação técnica desenvolvida pela CODATU no Brasil. A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e o Governo do Estado do Rio de Janeiro assinaram, em abril de 2015, um acordo de cooperação técnica visando acompanhar o Estado do Rio de Janeiro na implementação de diferentes projetos de mobilidade urbana e na melhoria dos sistemas de transporte público Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A CODATU e o CEREMA são os parceiros técnicos nesta cooperação.
A estação Central do Brasil é o hub de passageiros da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e está localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro. Estima-se entre 600 000 e 800 000 pessoas por dia passando pela estação, que é atendida por (i) todas as linhas de trem metropolitano, (ii) as Linhas 1 e 2 do metrô, (iii) um terminal de ônibus municipal, (iv) um terminal de ônibus metropolitano, que pode dar lugar a um terminal do BRT TransBrasil, (v) a Linha 2 do veículo leve sobre trilhos (VLT) e (vi) o teleférico do Morro da Providência (inoperante desde o fim de 2016). A riqueza representada pela presença de diferentes modos de transporte é contrastada pela falta de sinalização e a presença de obstáculos físicos que dificultam a integração entre os modos.
A Central do Brasil está inserida no perímetro de intervenção da operação urbana consorciada Porto Maravilha, uma parceria público-privado (PPP) para o reordenamento urbano da zona portuária do Rio de Janeiro. No entanto, até o momento poucos projetos são previstos no perímetro imediato da estação.
O bairro da estação possui uma grande importância histórica e cultural para a cidade do Rio de Janeiro. A favela mais antiga da cidade, a Providência, se localiza no morro a alguns metros da estação. Além disso, a Proclamação da República aconteceu na praça em frente à estação. Hoje, esta praça, chamada Campo de Santana ou Praça da República, está separada da Central do Brasil por uma estrada urbana de oito faixas de rolamento por sentido, a Av. Presidente Vargas, uma verdadeira barreira urbana.
Ademais, vários prédios tombados patrimônio se localizam no perímetro da estação. No entanto, vários deles se encontram em mal estado de conservação. Quanto aos comércios, nota-se um grande número de comércios informais e de vendedores ambulantes. De modo geral, a presença de moradores de rua e de usuários de drogas no entorno da estação provoca uma sensação de insegurança, o que é visto como um dos freios para os investimentos na região.
No que se refere à governança, constata-se a presença de diversos atores de diferentes esferas públicas e privadas que não se coordenam muito bem, tendo até o momento interesses divergentes. Trata-se de um importante problema que impede de lidar com todos os desafios no entorno da estação Central do Brasil.
Um workshop para discutir o futuro da estação
Com o intuito de estabelecer um diagnóstico comum da situação atual e uma visão futura compartilhada entre os diferentes atores, a CODATU organizou um workshop nos dias 28 e 29 de setembro de 2017, com a participação de Andreas Heym da AREP, empresa especializada na renovação das estações e no reordenamento urbano, e Marine Millot do CEREMA, instituição pública francesa de pesquisa especializada, entre outros, nos polos de integração dos modos de transporte. Aproximadamente 40 pessoas de diferentes estruturas públicas e privadas participaram deste workshop.
Após os especialistas terem apresentado suas visões estrangeiras sobre a estação, conceitos de integração modal e exemplos de renovação urbana e de estações na França e no mundo, um trabalho em grupo foi realizado para estabelecer um diagnóstico sobre seis temas principais na região: segurança e ordem urbana, ação social, atividades econômicas, integração dos modos de transporte, planejamento e uso do solo, e ecologia urbana. A atividade permitiu identificar os pontos fracos e as potencialidades sobre cada assunto.
Em seguida, com base nestes diagnósticos, os participantes propuseram o papel da Central do Brasil em três escalas no horizonte de dez anos: escala metropolitana, escala do bairro (centro histórico) e escala da estação. Para cada escala, pode-se destacar as seguintes ideias:
- Escala metropolitana: criação de novas centralidades e a consolidação das centralidades existente a fim de aliviar os fluxos cotidianos em direção à Central do Brasil, sem, no entanto, esvaziar o centro histórico;
- Escala do bairro: o desenvolvimento urbano deve se realizar dando prioridade ao pedestre e à redução do espaço dos automóveis. O combate à criminalidade e a promoção de projetos sociais de longa duração poderiam ajudar a ajudar a restabelecer a segurança do bairro da estação
- Escala da estação: a melhoria da integração dos modos de transporte por meio de estudos de fluxos e a criação de uma identidade visual única para todos os modos.
A ideias apresentadas pelos diferentes grupos provenientes de diferentes meios profissionais se complementam e convergem a um futuro comum.
Os debates realizados durante este primeiro workshop servirão de dados de entrada para as próximas atividades da cooperação técnica. O próximo workshop está programado para o primeiro trimestre de 2018.